O que descobrimos
- Restaurantes tradicionais copiam formato popularizado pelas redes de fast food
- Com mais tempo para ler o cardápio, clientes variam os pedidos
- Para dar certo, divulgação na porta do restaurante é essencial
Na Coreia do Sul, fizeram drive-thru para fazer testes da covid-19. Depois, vieram os drive-thrus de vacina contra gripe no Brasil. Agora, são os restaurantes que estão aderindo a essa modalidade que vem se tornando cada vez mais popular em tempos de pandemia: o atendimento ao cliente dentro do carro.
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Na cidade de São Paulo, um dos restaurantes mais tradicionais aderiu ao sistema: a cantina Gigio. “No primeiro final de semana da quarentena, com o salão fechado para atendimento, o Vinícius Brás (dono do restaurante) me ligou perguntando se eu tinha alguma ideia do que fazer”, lembra a nutricionista e gerente de marketing da cantina, Geovana Marques dos Santos. “Pensei nesses drives thrus de fast food e dei a ideia.”
Em três dias, o restaurante organizou a operação e fez a divulgação do serviço em redes sociais. O cliente pode fazer a encomenda por telefone, do carro ou antes de sair de casa, e espera a encomenda dentro do carro. Cada pedido demora 25 minutos, em média, para ficar pronto. O pagamento é feito por maquininha, por aproximação para cartões que têm essa funcionalidade. Tudo é higienizado e o contato é o menor possível.
O restaurante, que chegava a atender 1200 pessoas no almoço de domingo no salão e mais 400 no jantar está conseguindo mitigar o prejuízo. “O delivery continua concentrando o maior movimento, com cerca de 500 a 600 entregas num domingo, o dia mais movimentado. Mas o drive thru ajuda bastante, principalmente para atrair novos clientes, que estão passando e veem a iniciativa”, conta Geovana. No último domingo, a cantina atendeu a pelo menos 70 clientes pelo sistema.
Outro que aderiu ao sistema foi o restaurante de comida oriental Tan Tan Noodle Bar, também em Pinheiros, como o Gigio. “Não tínhamos nem serviço de entrega antes da pandemia”, conta o dono, Thiago Bañares. Com o fechamento do comércio, em 20 de março, a gente correu para montar as duas operações: a de entregas em casa e o drive thru.
“O cliente pede pelo WhatsApp e pode pagar na hora, por PayPal, ou usando a maquininha”, diz Bañares. A entrega é feita para o cliente dentro do carro, de bicicleta ou até a pé. Para um restaurante que atendia presencialmente cerca de 200 pessoas por refeição, o sistema tem ajudado. “Recebemos cerca de 150 encomendas por dia. Dessas, de 35 a 40 são para o drive thru, incluindo os clientes que vem a pé também”, conta o proprietário.
Os custos, segundo ele, meio que empatam. “Os gastos são diferentes”, explica Bañares. No atendimento presencial, a lista de despesas inclui ar-condicionado, limpeza, lavagem de partos e talheres. No drive thru (e também no delivery), o maior custo são as embalagens, as etiquetas, as sacolas. E é preciso tem um cuidado maior na identificação e etiquetagem dos produtos para não haver confusão. “No fim das contas, os gastos meio que se equiparam”, conta o empresário.
O cardápio também muda um pouco. “Não estamos, por enquanto, servindo os caldos”, conta Bañares, por conta da capacidade das embalagens em conter os líquidos. Na Cantina Gigio, o cardápio continua o mesmo, mas os pedidos estão mais variados. “Acho que agora as pessoas têm mais tempo de ler o menu e estão querendo sair da monotonia do confinamento experimentando novos pratos”, diz Geovana. Itens que não tinham tanta saída, como os risotos, agora estão sendo mais pedidos.
O drive thru para restaurantes funciona bem para casas em que o apelo é a comida, e não o ambiente. Para dar certo, o sistema também precisa ser bem divulgado, não só pelas mídias sociais da empresa, mas também na fachada. “Muita gente não conhece esse sistema. Pensa que é coisa apenas de sanduíche tipo fast food. Por isso é importante divulgar bem”, explica Geovana, do Gigio, que colocou cartazes na frente do restaurante.
Talvez seja por isso que, no Rio de Janeiro, o sistema não funcionou para a Casa Camolese, um belo restaurante, no Jockey. Em um mês de funcionamento, o sistema de delivery, segundo um empregado do restaurante, faturou apenas R$ 1.000. O drive thru não teve nenhum adepto. Na Casa Camolese, o que mais atraía clientes era a experiência da ida a um lugar agradável, e não só a comida.
Nesses casos, a saída continua sendo apostar na venda de vouchers. A campanha “Apoie Um Restaurante”, da marca de cerveja Stella Artois, lançada em 26 de março, conseguiu vender R$ 4 milhões em cupons de cerca de 3 mil bares e restaurantes, em 300 cidades.
Na segunda fase da campanha, a Nestlé, com a marca Nespresso, vai oferecer mais 60 mil novos vouchers. O cliente compra R$ 50 e pode gastar R$ 100, depois da pandemia. A diferença é financiada pela marca de cafés.
Da mesma maneira, a cervejaria Heineken criou a campanha “Brinde do Bem”, pela qual as pessoas podem comprar cupons e contribuir com seus bares preferidos. A cervejaria dobra o valor de cada contribuição para o bar.
Drive Thru do Gigio
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