Quer investir em árvores? Mercado oferece ativos florestais para investidores

As queimadas na região amazônica que vieram à tona nas últimas semanas despertaram a atenção do mundo para a exploração da natureza no Brasil. O que pouca gente sabe é que dá para investir no plantio de árvores, uma aplicação que promete unir boa rentabilidade e uma agenda ambiental positiva.

Os investimentos em ativos florestais consistem em áreas de reflorestamento voltadas para fins comerciais para serem utilizadas por indústrias, como a de papel e a de móveis, por exemplo.

Como investimento, esse tipo de ativo é um ponto positivo para quem busca uma exposição a ativos reais, diversificação, principalmente de longo prazo, além, é claro, de um impacto ambiental. Uma plantação de eucalipto, mesmo que para corte futuro, consome dez toneladas de carbono por ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Florestas, além de preservar a mata nativa.

Como todo investimento, a relação risco x retorno também dá as caras por aqui. A plantação está sujeita a perigos como a infestação por praga, incêndios e eventos climáticos, além de riscos de mercado como a desvalorização da madeira e o aumento do preço dos insumos.

Por isso, com o longo prazo exigido desde a plantação até o corte, o retorno é maior do que ativos com menos risco, como títulos de renda fixa do governo, por exemplo.

Como investir?

Os interessados nesse tipo de ativo contam com algumas possibilidades de investimento. A mais tradicional é a plantação por conta própria. Madeiras como o eucalipto e o mogno africano, por exemplo, são bem valorizadas no mercado.

Para isso, contudo, é necessário, além da posse ou arrendamento do local, conhecimento acerca do assunto. “Você precisa de uma avaliação da aptidão do solo para atividade, além de procurar informações técnicas. É importante que avaliem a localização da plantação também”, diz Solano Aquino, diretor presidente do Instituto Brasileiro de Florestas.

Para ele, compartilhar a plantação para diminuir os custos é uma opção válida. “Fazer de forma compartilhada o plantio e venda sempre é vantajoso. Desde que a avaliação esteja bem feita, três hectares [de terra] já torna a plantação viável”, afirma Aquino.

Pequeno investidor

Caso você não tenha uma área rural, há outras formas de investir nesse tipo de ativo. A Radix Florestal, por exemplo, é uma startup que oferece cotas da plantação de mogno africano por meio de crowdfunding de investimento.

A operação, certificada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), oferece cotas a partir de R$ 450 por investidor. Segundo a empresa, a estimativa conservadora de retorno é de 12% ao ano, com liquidez entre 15 e 20 anos -prazo de crescimento da árvore.

“Esse modelo faz com que ganhamos escala. Se a gente fosse plantar sozinhos, teríamos apenas dez hectares. Hoje já temos 70 hectares e isso só é possível por conta da força do coletivo”, diz Thiago Campos, um dos fundadores da empresa.

“A aplicação é única por parte do investidor. Não tem mensalidade ou taxa de administração. A projeção [de liquidez] é de 18 anos, que é o ciclo natural do mogno. Mas antes, com oito ou dez anos, já há a primeira parte do pagamento graças a retirada de algumas árvores. O contrato é de 15 a 20 anos, mas esperamos cortar antes”, afirma ele.

Pelo longo prazo, o investimento é aconselhável para quem pensa na aposentadoria ou quem deseja deixar patrimônio para os filhos, por exemplo.

Fundos

Apesar das novas iniciativas, a presença de pequenos investidores nesse tipo de ativo ainda é tímida. Dados do IBF mostram que grande parte das florestas plantadas no Brasil são de propriedade de grandes empresas.

Operadores do mercado como o BTG Pactual, Copa Investimentos e a Claritas já administram fundos voltados a investir em ativos florestais, mas ainda não oferecem participação direta ao pequeno investidor.

A Claritas, por exemplo, conta com dois fundos voltados aos ativos florestais, com cerca de R$ 400 milhões em gestão. A única possibilidade de um investidor não institucional participar, no entanto, é comprando cotas pelo mercado secundário.

Para Cassiano Morelli, diretor dos fundos alternativos da Claritas, a produtividade das florestas plantas, aliada a disponibilidade de terras e um cenário de baixa de juros, faz com que esse tipo de investimento seja ainda mais explorado.

“Entendo que esse tipo de investimento faz muito sentido para investidor institucional e grandes famílias. Para eles, um nível de investimento que gera um ativo fechado por 20 anos, com rentabilidade boa, faz todo o sentido”, diz. “Desde 2008, que foi a primeira colocação da Claritas no mercado, a gente vê uma revolução nesse nicho”, completa.