Os impactos da pandemia de coronavírus sobre a economia, com forte redução de renda e aumento da taxa de desemprego, reduzirão pela metade a alta do crédito para consumidores em 2020.
Essa é a avaliação dos próprios bancos, que são ouvidos pelo Banco Central a cada três meses sobre suas perspectivas para financiamentos na PTC (Pesquisa Trimestral sobre Condições de Crédito).
Em um levantamento feito entre 2 e 10 de março, a expectativa era que a retomada da economia e a taxa básica (Selic) no menor patamar da história permitiriam uma expansão de 12% no total emprestado a pessoas físicas neste ano.
Quando a mesma pergunta foi feita no período entre 27 de abril e 5 de maio, ou seja, quando já estava claro o alcance do prejuízo das medidas de isolamento social para a economia, essa projeção se reduziu para 6,2%, em média.
O motivos para esse freio nas expectativas pode ser encontrado na própria pesquisa: em março, os bancos esperavam, em média, uma inadimplência de 4,1% no crédito para consumo. Esse percentual de calotes previstos aumentou para 5,85% no levantamento feito entre o final de abril e início do mês passado.
“Os bancos estarão mais restritivos por causa da alta do risco de crédito e a demanda por financiamentos também estará mais fraca”, explica Isabela Tavares, especialista em crédito da consultoria Tendências. “Houve efeitos severos no mercado, com perda de renda e de empregos, e o ambiente é de menor propensão ao consumo”.
Crédito para empresas
A alta no financiamento para empresas também sofreu um rebaixamento na expectativa dos bancos ao longo dos últimos meses.
No caso das grandes, os bancos esperavam que o total emprestado a elas fosse crescer 5% em relação ao ano passado –isso caiu para 2,8% na segunda rodada do levantamento.
É importante lembrar que as grandes vinham se financiando bastante no mercado de capitais, mas a forte queda da bolsa a partir da segunda quinzena de março as forçou a buscar financiamento nas instituições financeiras.
“Houve uma corrida das grandes empresas por crédito em março, logo que os efeitos da pandemia começaram a aparecer”, explica Tavares. “Mas com o passar dos meses a expectativa é que, após os meses mais severos, esse movimento vá se normalizando. Por isso houve essa redução na expectativa dos bancos”.
Para as pequenas e médias empresas, esse ajuste foi bem menor: de uma perspectiva de alta de 6,5% em março para 5% no início do mês passado.
BNDES e renegociações engordam saldo
Apesar dessas projeções feitas pelos bancos, o BC divulgou nesta quinta (dia 4) que aumentou sua expectativa para alta do saldo do crédito em 2020 de 4,8%, em março, para 7,6%, em uma aparente discrepância com a pesquisa feita com instituições financeiras.
Tavares explica que essa diferença é explicada por mais crédito direcionado (ou seja, financiamentos concedidos pelo BNDES, que não entram na pesquisa) e principalmente por renegociações de dívidas, que foram estimuladas pelo Banco Central em meio à crise.
“As dívidas que estavam classificadas como inadimplentes voltam para o estoque de crédito ao serem renegociadas”, explica a especialista. “Além disso, as renegociações, que em alguns casos envolvem carência e adiamentos de pagamentos, deixam os financiamentos mais tempo dentro do estoque”.