Quem dera investir fosse como cozinhar um bolo. Não adianta procurar, não há uma receita pronta que se encaixe perfeitamente para toda e qualquer pessoa. As oportunidades de investimento são as mais diversas possíveis, e a definição de qual é a melhor escolha acaba sendo influenciada por muitos fatores, desde a conjuntura política e econômica até as motivações individuais de cada pessoa.
“Todo bom investidor precisa saber o seu objetivo, os produtos que está contratando e qual a sua tolerância a riscos”, defende Fábio Macedo, diretor comercial da corretora Easynvest. Uma vez traçado o objetivo, que pode ser acumular uma reserva financeira para daqui a poucos meses, a aquisição de um bem ou até uma aposentadoria, é o momento de diferenciar os produtos e entender a conjuntura.
O Brasil vive um movimento singular da sua história. O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) promoveu sucessivos cortes na taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, que fechou 2019 em 4,50% ao ano — e assim, segundo as estimativas de mercado, deve se manter ao longo de todo o 2020.
Outro fator é que depois de dois anos de recessão e três de crescimento baixo, o país inicia mais um ano com a esperança de ver o PIB voltar a crescer de forma mais expressiva, acima da faixa dos 2%. Aguarda-se a expansão do crédito e do consumo, a redução mais consistente do desemprego e a atração de investimentos internos e externos.
Devo começar a investir em 2020? Sempre vale a pena começar a se planejar financeiramente, poupar e investir. Sobre o cenário que citamos, primeiro vale frisar que esse é o panorama de momento, segundo economistas e agentes de mercado que conversaram com o 6 Minutos.
Segundo, que é importante relembrar o começo desse texto: Entenda o seu momento de vida e seu perfil de investidor, se mais agressivo (tolerante ao risco de eventuais perdas), moderado ou conservador (intolerante a riscos). Vale reforçar, também, a dica necessária de sempre buscar a maior diversificação possível, de forma a diluir esses riscos.
“O cenário de juros baixos recomenda que aquele que quer rendimentos maiores precisará aceitar correr mais riscos. Só que se estamos falando de um investidor que está começando a formar uma carteira agora, não faz sentido dizer que o que ele precisa é correr riscos”, pondera Macedo, da Easynvest.
Segundo ele, a primeira coisa que um investidor precisa é formar a sua reserva de emergência, escolhendo uma opção de baixíssimo risco e de liquidez diária — ou seja, que você pode ter à mão quando precisar. É o caso, por exemplo, do Tesouro Selic, título do Tesouro Nacional vinculado à taxa Selic. Esse primeiro montante tem que estar reservado para necessidades emergenciais, mesmo que o rendimento seja menor com os juros mais baixos.
Já tenho minha reserva de emergência. Como posso aproveitar o momento atual? Dar um passo para a renda variável aparece como um caminho um tanto necessário para quem quer ver seu dinheiro render mais. Isso não significa, no entanto, que você tenha que entender tudo da bolsa da noite para o dia e se tornar um trader.
Esse passo pode ser dado de diversas formas. Em geral, uma boa dica para investidores iniciantes ou menos tolerantes a riscos no mercado de capitais é procurar aplicar em fundos que investem em ações ou com algum grau de exposição à renda variável, como os fundos multimercados.
Em ambos os casos, estamos falando do trabalho de um gestor profissional, que naturalmente cobrará uma taxa de administração pelo serviço. Antes de fazer o investimento, saiba exatamente quais serão os percentuais cobrados, qual o histórico do gestor e qual a estratégia que o fundo vai adotar.
Uma dica é olhar a rentabilidade alcançada no maior período anterior possível, de preferência em mais de 24 meses anteriores. Essa é uma das dicas de um especial sobre multimercados que o 6 Minutos preparou em outubro e vale revisitar se essa for uma das suas opções para 2020.
Se esses dois tipos de investimento se beneficiam diretamente dos juros baixos e da maior procura pela bolsa de valores, por outro lado há duas aplicações muito ligadas ao processo de retomada do crescimento: os fundos imobiliários e as debêntures.
Como assim? Qual é a relação entre esses investimentos e a economia? O Fundo de Investimento Imobiliário, conhecido como FII, é um fundo de investimento em que há a comunhão do capital de um grupo de pessoas com a finalidade de aplicar no setor imobiliário.
O recurso pode ser aplicado tanto em imóveis, para alugar ou vender, quanto em cotas de outros FIIs, ações de companhias do setor e investimentos relacionados, como LCIs (Letra de Crédito Imobiliário). A valorização dessa modalidade está relacionada com o aquecimento do setor e o impulso que os juros mais baixos dão ao crédito imobiliário, mas há ponderações sobre a repetição desse sucesso em 2020.
A principal vantagem do fundo imobiliário é a possibilidade de receber um rendimento periódico isento de imposto de renda (entenda condições), que só é cobrado em caso de venda da cota com valorização. Esse rendimento pode ser oriundo de alugueis, rendas ou da valorização dos ativos que compõem o Fundo.
Vale frisar que esse é um investimento de risco, uma vez que há sempre a possibilidade da inadimplência por parte do inquilino, por exemplo. Nesse caso, a dica é saber exatamente qual é a origem da rentabilidade daquele fundo, se é distribuída entre diversos imóveis e inquilinos ou se é concentrado em poucos. Na segunda opção, o risco de que o Fundo perca rendimento é maior.
Outra opção de investimento citada por analistas como em destaque para 2020 são as chamadas “debêntures”. Debênture é um título de renda fixa emitido por uma empresa. Na prática, é como se você emprestasse dinheiro a essa companhia em condições pré-definidas.
A combinação entre juros mais baixos, sinais de retomada da economia e escassez do crédito público subsidiado está impulsionando a oferta de debêntures e aumentando significativamente as oportunidades de rendimento para os investidores interessados.
Para essa modalidade de investimento, é importante frisar que se trata de outra aplicação de risco, uma vez que há o risco de um “calote”. É preciso fazer pesquisas aprofundadas sobre a empresa e entender o momento dessa companhia, se a busca por crédito visa financiar uma expansão ou cobrir dívidas.
Uma outra dica preciosa são as debêntures incentivadas. Esses títulos são emitidos por empresas do setor de infraestrutura e se destinam a financiar obras necessárias para o país. Por esse motivo, são isentas de imposto de renda.