O que você precisa saber
- Varejistas suspenderam novos pedidos e queimam estoque que ficou parado.
- Lojas que dependem de importação sofrem com o dólar alto.
- Também falta matéria-prima. Ou, em alguns casos, ela está disponível, mas bem mais cara.
Se você entrou em alguma loja recentemente, provavelmente notou algo errado: as prateleiras estão meio vazias, com produtos em falta. Em alguns casos, principalmente no varejo de moda, os itens que estavam no estoque da loja — aquelas de coleções passadas, com cara de outlet — saíram do armário e estão até nas vitrines. Por que isso está acontecendo?
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Dólar e pandemia. Esses são os dois fatores que estão atrapalhando o comércio em geral. “O fio de algodão, por exemplo. O produtor, com o dólar a R$ 5,20, R$ 5,30, ele prefere exportar. Para vender no mercado interno, ele corrige o preço dele em dólar. O quilo do fio, que no começo do ano passado estava R$ 13 reais, agora está R$ 30. Tudo por causa do câmbio”, diz o presidente da rede de varejo de moda TNG, Tito Bessa Júnior, que também é presidente da Associação Brasileira de Lojas Satélites (Ablos).
Por isso, muitos lojistas resolveram adiar seus pedidos e preferem agora queimar o estoque que ficou parado durante a quarentena.
“Fiz um pedido grande, antes da pandemia, para o Dia das Mães. Esses itens todos não tiveram vazão por meses”, diz Ana Paula Bandeira Braga, dona de oito franquias da rede de bijuterias Morana, na região Centro-Oeste. “Esse estoque que ficou parado eu só consegui vender agora, com a flexibilização e durante o Natal. Ainda sobrou um pouco. Não consegui fazer pedidos novos porque está faltando muita coisa”, afirma ela.
Nas 30 lojas Adidas do Grupo Nomura houve falta de modelos específicos. “A marca fez alguns cancelamentos de pedidos e isso acabou abrindo um certo buraco”, diz Mauro Nomura, presidente do grupo. Isso aconteceu, segundo ele, porque quando a pandemia começou, em março, a Adidas suspendeu a importação de vários produtos. E como as lojas trabalham com seis meses de antecedência, isso deixou a oferta atual de produtos “meio torta”, como ele diz. “Mas em 2021 já estamos com suprimento mais regulado”, diz o empresário.
No caso das lojas de bijuteria de Ana Paula, boa parte dos itens vêm das Coreia do Sul. O dólar complicou as coisas aí, mas também a pandemia, pois os fabricantes coreanos e os transportes para exportação ficaram parados por muito tempo. “Isso prejudicou a cadeia toda. Agora, por exemplo, estou com problemas com embalagens. Imagina vender presentes e não ter como embalar?”, diz ela.
Com o aumento em torno de 45% (Ebit/Nielsen) nas compras online, a busca por embalagens disparou. Ao mesmo tempo, com a pandemia, a Braskem, única fornecedora de matéria-prima de resina plástica no Brasil, reduziu sua capacidade de produção para 64%, segundo o Sindicato da Indústria do Material Plástico do Estado de Minas Gerais (Simplast-MG). Com esse aumento na demanda e a queda na produção, a conta não fecha.
“Espero que após esse período de liquidações, que começa agora e vai até abril, as coisas melhorem”, diz Ana Paula. “Torço para que a coleção de inverno venha para normalizar tudo. Mas não tenho certeza de nada”, afirma ela.
Uma lei federal, a 11.903, vai implantar um sistema de rastreabilidade de medicamentos a partir de 2022. Mas especialistas do setor farmacêutico demonstram apreensão com esse prazo. Para começar a adaptação ao sistema, a indústria precisa de uma Instrução Normativa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não saiu do papel. “As companhias do setor que iniciarem esse plano agora, em janeiro, já começarão uma corrida contra o relógio, pois o processo gira em torno de 12 meses. Mas as que decidirem esperar pela resolução não conseguirão se adaptar a tempo e poderão ter suspensas a distribuição e comercialização de seus medicamentos, o que aumentaria os riscos de desabastecimento nas farmácias”, diz Vinicius Bagnarolli, diretor de operações da empresa de rastreabilidade rfxcel.
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