O que descobrimos
- Há quatro anos, 95% dos pequenos empreendedores que vendiam pela internet usavam os Correios
- Agora, esse percentual caiu para 80%, conforme a ABComm
- Entre as médias e grandes empresas, apenas 40% usam os Correios
A greve dos Correios não assusta como antes quem depende da empresa para vender pela internet. Victoria Alonso, proprietária do site Ozllo, faz parte do grupo para quem a EBCT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) virou coisa do passado. Há 30 dias, ela transferiu toda operação de logística de seu marketplace de marcas de luxo.
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“Agora, uso um hub de distribuidoras. Entro no site e vejo qual serviço de logística está mais em conta para o trecho que preciso e escolho a melhor opção”, conta a empresária.
A desistência de enviar seus produtos pelos Correios aconteceu no início da pandemia. “Desisti depois que uma entrega de São Paulo para o Rio de Janeiro levou 20 dias. Se tivesse ido a pé teria chegado antes.”
Tadeu Almeida, fundador do site Repassa, de peças de segunda mão, também tomou a mesma decisão. “Acabamos de fechar um contrato com uma transportadora para fazer as entregas para o Sul do país e estamos negociando com outras para o restante do Brasil”, diz ele. O motivo? Oferecer uma entrega mais rápida para o cliente e gastar menos. “A redução de custos para gente é de mais de 20%”, afirma.
Por causa de decisões como a de Tadeu e Victoria, a greve dos Correios deste ano deve atingir menos empreendedores. E que os empresários do comércio eletrônico estão tentando depender cada vez menos da ECT.
Em 2016, segundo um levantamento do Sebrae (Serviço Apoio às Micros Empresas São Paulo), 95% das pequenas empresas que vendiam pela internet usavam os Correios para fazer suas entregas.
“Hoje esse número está em torno de 80% ou menos”, diz Mauricio Salvador, presidente da ABComm (Associação Brasileira de Comércio). Entre os médios e grandes comerciantes, que representam 70% dos varejistas eletrônicos do país, o percentual é ainda menor: apenas 40%.
Três fatores, segundo ele, fizeram com que o varejista do e-commerce procurasse uma alternativa de entrega. O primeiro dele são as greves dos Correios. Desde 2011, pelo menos, elas acontecem todo ano. Em 2019, foram sete dias de paralisação. Em 2018, durou um dia apenas. Mas em 2014 foram 43 dias e em 2011, 28 dias.
A qualidade do serviço, segundo Salvador, também não é satisfatória. “Acontecem muitas avarias e atrasos”.
Por fim, os preços também contam muito. Tanto que a ABComm entrou com uma ação na Justiça para tentar brecar os reajustes de preços que a empresa vem fazendo. O processo ainda não foi julgado.
De janeiro a julho de 2020, houve um aumento de 398,58% em relação ao mesmo período de 2019 no número de queixas contra os Correios na Fundação Procon-SP. Entregas que não chegam é a reclamação mais comum.
Essa alta nas reclamações é bem maior que a elevação nas vendas feitas pela internet na pandemia. De março a julho houve crescimento acumulado de 230% na comparação com o mesmo período de 2019, segundo a ABComm.
Para evitar esse tipo de problema, grandes plataformas de vendas de produtos, como Mercado Livre também estão dependendo menos dos Correios. No caso da Mercado Livre, o site criou um sistema próprio de entrega, o Mercado Envios, com malha logística própria e parcerias com 70 operadores logísticos no Brasil. Hoje, mais da metade (51,6%) dos vendedores do serviço eletrônico já estão usando a entrega própria da plataforma.
“Mas também não é possível abandonar totalmente os Correios”, diz Almeida, do Repassa. “Até porque tem lugar que só a EBCT chega”, acrescenta ele. Dos 5.570 municípios que existem no Brasil, há, segundo a ABComm, pelo menos 2.000 cidades onde só os Correios conseguem chegar.
Por isso, mesmo afetando menos gente, a greve ainda pode provocar muito estrago. Boa parte dos pequenos empreendedores virtuais vão sofrer com a paralisação se ela durar muito. Karina Moss Chamma pode ser uma delas. A empreendedora abriu durante a pandemia uma loja virtual de pijamas no Instagram, a Cia.dos.Pijamas.
Moradora de Santo André, no ABC Paulista, ela mesma faz suas entregas em São Paulo. “Mas 30% das minhas vendas são para outras cidades e envio tudo pelos Correios. Já estou avisando os clientes sobre esse inconveniente e estou procurando uma alternativa para não deixar ninguém sem produto”, afirma.
A ABComm recomenda aos empresários que avisem seus clientes sobre possíveis atrasos. Uma saída é deixar o tradicional e mais usado PAC e recorrer ao serviço Sedex, que não para durante as greves. “Mas é bem mais caro”, explica Salvador. Ou procurar uma transportadora particular.
Já o Procon-SP diz que o consumidor que contratar serviços dos Correios tem direito a ressarcimento ou abatimento do valor pago. Nos casos de danos morais ou materiais pela falta da prestação do serviço, cabe também a indenização por meio da Justiça.
O Procon também diz que, caso a pessoa tenha adquirido produtos de empresas que fazem a entrega pelos Correios, essas são responsáveis legalmente pelo atraso.
Em nota oficial, a ECT disse que a eficácia de suas entregas está acima de 90%. “Sobre a paralisação parcial de empregados, o atendimento dos Correios está aberto em todo o país, que segue atuando para reforçar o fluxo de entregas. A empresa já colocou em prática seu Plano de Continuidade de Negócios, para minimizar os impactos aos clientes.”
Esse plano inclui medidas como o deslocamento de empregados administrativos para auxiliar na operação, remanejamento de veículos e a realização de mutirões.
A ECT também disse que na terça-feira, em levantamento parcial, 83% do efetivo total dos Correios está trabalhando regularmente.
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