Várias empresas de mídia estão exercendo a prática de selecionar boas notícias para divulgação diária. Esse exercício se tornou ainda mais relevante em um momento de tantas incertezas e preocupações, já que muitas pessoas estão sentindo a necessidade de contrabalancear a alta dose de más notícias que vem recebendo em tempos de coronavírus.
“Filtrar as informações que chegam neste momento é um procedimento recomendado para manter a saúde emocional”, confirma a psicóloga Renata Sansoni, que também atua como consultora de desenvolvimento humano e organizacional.
“O excesso de notícias ruins ou falsas alimenta pensamentos exagerados e catastróficos e aumenta o nível de ansiedade e estresse. Já as boas notícias e as histórias que mostram gentileza e empatia ajudam a criar uma certa blindagem e reforçam a nossa imunidade emocional”, explica Renata.
Para o publicitário Vicente Carvalho, fundador do portal Razões para Acreditar, referência nacional na missão de disseminar boas notícias, estamos vivendo um momento emblemático. “Nunca foi tão importante valorizar o que acontece de positivo”, ele diz.
Com o slogan “Não é que o mundo esteja pior, você que não fica sabendo das coisas boas que acontecem”, o portal vem atraindo um público cada vez maior. Ultrapassou a marca de 1 milhão de seguidores no Facebook e 2 milhões no Instagram. Só nessa rede suas postagens estão sendo vistas mais de 50 milhões de vezes por semana.
Trata-se de uma evolução impressionante quando se leva em conta a despretensão com que Carvalho iniciou o trabalho, em 2012. “Percebi que não tínhamos no Brasil uma central de notícias positivas e sentia falta disso”, lembra o maranhense criado em Rondônia, morador de São Paulo desde 2008.
Nos primeiros dois anos, Carvalho trabalhou sozinho e sem ser remunerado pela dedicação ao projeto. Até que se associou ao também publicitário Marcelo Martins, que havia falido ao tentar montar uma padaria artesanal, para estruturar o portal como negócio.
Só em 2015 aconteceu a primeira ação remunerada. Hoje, a equipe é composta por 11 pessoas que já atuavam remotamente antes do coronavírus, espalhada por diversos estados do Brasil, além de frilas convocados para missões específicas. “Nosso volume de trabalho aumentou incrivelmente com a crise”, relata Carvalho.
Logo na primeira semana da quarentena, o Razões criou um hotsite para agrupar informações sobre cursos e outros serviços gratuitos que as empresas estavam oferecendo. “Foram mais de 500 mil acessos nos três primeiros dias”, conta o criador do portal.
Outra ideia foi lançar um canal solidário para ajudar pequenas empresas a sobreviver. Por meio do canal pode-se, por exemplo, comprar uma caixa de morango de um produtor e abrir mão do direito de receber o produto.
No final do ano passado, o portal já havia lançado uma plataforma própria de financiamento coletiva, a Voaa (iniciais de “Vaquinha online com amor e afeto”). Por meio dela foram materializadas várias campanhas relacionadas ao coronavírus. Uma delas ajudou o auxiliar de enfermagem Joseildo Batista, de Campina Grande (PB), que estava dormindo no terraço de casa para não submeter a mãe a qualquer risco de contaminação.
Só no primeiro dia foram arrecadados R$ 34 mil, dinheiro que Batista usou, em parte, para uma pequena reforma na casa, destinando o restante à compra de cestas básicas para distribuição no bairro onde mora e nos asilos onde já trabalhou.
A jornalista Kíria Meurer, conhecida do grande público por ter sido repórter da TV Globo até setembro do ano passado – quando decidiu se desvincular para testar novos caminhos profissionais e pessoais –, juntou-se ao time dos disseminadores de boas notícias.
Logo que despontaram os primeiros casos de coronavírus no Brasil, ela teve sintomas que a fizeram ficar em casa durante duas semanas. Foi quando se deu conta que o excesso de más notícias a estava deixando ansiosa e preocupada.
“Comecei a procurar e compartilhar boas notícias, especialmente no que diz respeito a solidariedade”, conta Kíria, que passou a utilizar a hashtag #solidariedadepega para divulgar essas histórias.
A iniciativa atraiu a atenção do Grupo Big, que propôs uma parceria: Kíria está produzindo uma série de entrevistas com alguns dos principais influencers do Brasil, em lives patrocinadas. As conversas giram em torno das estratégias de cada um para manter o espírito de otimismo durante a quarentena.
Buscar o otimismo em meio a um cenário tão adverso não seria ceder à Síndrome de Polyanna? “Não se trata de fingir que está tudo bem, mas de buscar uma visão mais ampla dos acontecimentos”, avalia a jornalista. “Falamos dos problemas, mas também dos caminhos para enfrentá-los. Isso é mais que otimismo, é autocuidado.”
Especialista em Psicologia Positiva, a psicóloga Renata lembra que o “pai” dessa linha, Martin Seligman, criou a Teoria do Otimismo Aprendido para ajudar as pessoas a enfrentar adversidades.
Trata-se de uma forma de ver os problemas limitando-os às circunstâncias e reforçando a autorresponsabilidade. Assim, por exemplo, em vez de justificar uma nota ruim numa prova com “sou burro mesmo”, a pessoa deve pensar que não estudou o suficiente – e que, se mudar de atitude, poderá ter um resultado diferente numa próxima ocasião.
A psicóloga Renata Sansoni dá algumas orientações sobre como aumentar a imunidade psicológica e emocional
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