Do que você se arrependerá no futuro? Estudo mostra que sua avó tinha razão

Referência em estudos do comportamento e autor de vários livros sobre motivação, traduzidos para 41 idiomas e com mais de 3 milhões de cópias vendidas, o pesquisador norte-americano Daniel Pink está diante de uma nova empreitada: investigar os arrependimentos das pessoas.

Pink lançou uma pesquisa online, que chamou de “Pesquisa Mundial de Arrependimento”, para recolher depoimentos e embasar um livro sobre o tema, a ser lançado em 2022. “Arrependimentos são uma parte universal da experiência humana”, justifica o pesquisador.

Uma das descobertas iniciais compartilhadas por Pink é que, numa proporção de três para um, os participantes da pesquisa tendem a lamentar mais o que não fizeram (como não ter comparecido a um funeral) do que aquilo que efetivamente fizeram (uma mudança de cidade, por exemplo). Trata-se da materialização de um velho adágio popular: “é melhor se arrepender pelo que você fez do que pelo que você não fez” — uma espécie de “conselho de avó” confirmado pela ciência.

Por ação ou por omissão?

Pink conta que um dos arrependimentos mais citados até agora na pesquisa é não ter se dedicado suficientemente aos estudos. Outra reflexão recorrente, especialmente entre as mulheres, é ter demorado demais para sair de um casamento insatisfatório.

Outro aspecto que chamou a atenção do pesquisador é que muitos dos arrependimentos descritos dizem respeito a falhas morais no início da vida, a exemplo de intimidar outras crianças na escola, colar em provas ou praticar pequenos furtos. “Um grande número de pessoas que expressou tal arrependimento estava na casa dos 40 ou 50 anos, sugerindo que elas guardam esses pensamentos por décadas”, descreveu Pink.

Além da divisão básica dos arrependimentos em dois grupos – por ação ou por omissão –, há outras classificações possíveis. Há os arrependimentos que envolvem situações cuja principal vítima foi a própria pessoa e aqueles que prejudicaram outras pessoas. Há também arrependimentos decorrentes de situações que não podem mais ser mudadas (relacionadas a pessoas que já morreram, por exemplo) e outros que poderiam ainda ser revertidos (como não ter aprendido o idioma francês).

Aceitar para perdoar

Para a psicóloga junguiana Rosângela Teixeira, um arrependimento pode ser classificado como um “torturador interno”, decorrente de emoções negativas, como mágoas, autocensura e autorrecriminações. Trata-se de uma criação da mente, em que a revisão repetitiva do que aconteceu ou poderia ter acontecido transforma-se num pensamento recorrente e indesejado.

A experiência prática de Rosângela no consultório coincide com a conclusão de Pink sobre a predominância de arrependimentos sobre aquilo que não foi feito. “Esse dói demais, porque se junta à culpa, a sentimentos como frustração, impotência e tristeza. Fica a sensação de falta de coragem, de uma covardia muda que se manifesta da pior maneira possível, no medo do fracasso”, descreve a psicóloga. Já a ação realizada, ainda que tenha se mostrado equivocada, traz o conforto do “pelo menos eu tentei”.

Rosângela considera importante pensar sobre os arrependimentos da vida – como propõe a pesquisa de Daniel Pink –, pois essas reflexões podem nos ajudar a crescer. “O problema não é o erro, é nos negarmos a aprender com o erro”, ressalta a psicóloga. “Para perdoar a nós mesmos precisamos antes de tudo da aceitação do que não sabíamos, do que não víamos. Sem aceitação não há como perdoar.”

Coleção de arrependimentos

Confira alguns dos depoimentos recolhidos por Daniel Pink pelo site worldregretsurvey.com (você também pode dar sua contribuição anônima à pesquisa).

“Não ter estudado fora do país.” (Homem, Brasil, 46 anos)

“Não ter sido paciente e empática com minha mãe, agora que ela se foi.” (Mulher, Austrália, 52 anos)

“Ter deixado o amor da minha vida.” (Mulher, Nigéria, 41 anos)

“Focar muito no bem-estar dos outros e ignorar o meu.” (Homem, Malásia, 27 anos)

“Não ter começado a economizar mais cedo para a aposentadoria.” (Mulher, Estados Unidos, 50 anos)

“Não ter praticado mais basquete, pois estaria melhor agora, e também não ter tentado aprender um terceiro idioma.” (Homem, Japão, 16 anos)

“Ter ficado zangada com meu marido um dia antes de levá-lo ao pronto-socorro. No dia seguinte ele morreu de covid-19.” (Mulher, Estados Unidos, 61 anos)

“Escolher focar no trabalho e na vida profissional, e não na família.” (Mulher, Romênia, 43 anos)

“Não ter levado a sério a minha saúde mental quando estava na universidade. Demorei muitos anos para me recuperar totalmente da depressão.” (Homem, Canadá, 28 anos)

“Ter escolhido segurança em vez de emoção.” (Homem, Inglaterra, 61 anos)