O que descobrimos?
- Muitos aspectos da vida e do trabalho estão passando por uma revolução durante a crise da covid-19.
- E o lazer, voltará a ser o que era antes?
É consenso que a pandemia acelerou uma série de tendências, como a disseminação do home office e as compras pela internet. No que diz respeito ao lazer, a primeira sensação talvez seja a de que as pessoas adotaram as maratonas de séries como principal passatempo e se limitaram a improvisar alternativas enquanto a situação não voltasse ao normal.
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Será verdade? Ou o lazer sairá da pandemia também transformado em definitivo? Só o tempo poderá responder a esta pergunta. Por enquanto, o que podemos fazer é uma retrospectiva, em dez tópicos, de como o lazer foi adaptado aos tempos de covid-19.
É provável que as apresentações de artistas ao vivo, pela internet, venham a ser lembradas como um dos principais símbolos da pandemia.
Algumas das lives mais marcantes entre os artistas brasileiros foram a de Ivete Sangalo, que no final de abril cantou em plena sala de casa, vestindo um pijama de bolinhas; a de Alceu Valença, que no início de maio se mostrou um perfeito entertainer ao mesclar suas canções com causos; e a live de Natal de Caetano Veloso, que teve a participação dos filhos e foi encerrada com um engano por parte de Caetano que virou meme: “Feliz 2001!”
Além do aprimoramento profissional, os cursos online ganharam força também como fonte de lazer e de cuidados com a saúde. “Com o mundo de lives de yoga que começaram a aparecer no Instagram, as pessoas passaram a procurar mais sobre o assunto. Para o negócio que eu estava começando, foi ótimo”, conta Luiza Osti, que pouco antes da pandemia trocou o emprego num grande banco pelo projeto de dar aulas de yoga.
Muitos cursos divertidos – a exemplo de treino vocal, preparo de cookies e leitura de tarô – podem ser encontrados nas plataformas Udemy.com e Domestika.org, a maior parte com custo abaixo de R$ 50.
Com a suspensão do funcionamento dos cinemas convencionais, a nostálgica prática dos cinemas a céu aberto – assistir a filmes sem sair do carro – foi retomada durante a pandemia.
Alguns empreendimentos comerciais se juntaram a iniciativas governamentais desse tipo, como o Projeto Paradiso, apoiado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, com uma série de filmes importantes do cinema nacional em cartaz.
Atividades que envolvem o mundo físico ganharam importância para contrabalancear o uso da internet – e das telas, de forma geral – pelas crianças. Durante a quarentena, muitas famílias resgataram jogos e brincadeiras como xadrez, damas, War, stop e até mesmo aviõezinhos de papel.
Ampliou-se a oferta de serviços com esse mesmo propósito. Um exemplo veio da Oficina de Arteiros, escola de teatro que adaptou sua metodologia para oferecer exercícios dramáticos e jogos teatrais para serem feitos pelas crianças em casa.
Para o coordenador da escola, o psicólogo Greg Rehavia, a adaptação permite manter a missão de desenvolver habilidades fundamentais que ele considera que estão se perdendo, como criatividade e resolução de problemas. “Preparamos exercícios que necessitam de movimentação, interação com os pais em casa e comunicação com os outros alunos.”
Os velhos diários ganharam novo significado durante a pandemia, como um misto de passatempo, registro histórico e terapia. Muita gente encontrou na escrita uma forma de lidar melhor com tudo o que estava acontecendo, especialmente diante da incerteza dos primeiros meses.
O concurso “Crônicas da quarentena”, promovido pelo portal Clube de Autores, recebeu 833 inscrições. “Em ocasiões semelhantes anteriores recebemos no máximo cento e poucas crônicas”, compara o criador do portal, Ricardo Almeida.
Atividades manuais tradicionais ganharam novos adeptos e reconquistaram antigos praticantes durante a pandemia. Um exemplo foi a antropóloga Paula Neves, que se sentiu motivada a praticar crochê. “Isso foi me dando novamente uma sensação de presença e de leveza, pois tirava o foco da preocupação com o futuro”, descreve Paula.
A jardinagem foi adotada como estratégia para tornar a casa mais agradável. A gerente de marketing Thais Jarandilha só tinha dois vasos quando a pandemia começou – e confessa que não dava muita atenção às plantas. A relação mudou completamente durante a pandemia. “Quando passei a ficar em casa o tempo todo, senti falta de mais verde e comprei várias plantas novas. Agora eu observo como elas estão e do que precisam”, conta Thais.
A tecnologia permite viajar sem sair do lugar. Com isso em mente, o fotógrafo Alexandre Disaro aproveitou as circunstâncias da pandemia para criar um novo negócio, o Viajar de Casa.
A ideia é simples: por R$ 150, o “viajante” compra um lugar num passeio virtual conduzido ao vivo por alguém que está em alguma parte interessante do mundo. Na maior parte dos casos o anfitrião é brasileiro, para facilitar a comunicação e evitar a necessidade de tradução.
A experiência dura até três horas. No cardápio, que no momento tem 31 roteiros em oito países, há destinos clássicos, como Paris, Roma e Florença. “Há também outros bem mais inusitados, como uma comunidade iacute da Sibéria e uma família produtora de um tecido típico do Uzbequistão”, descreve Disaro.
Além das lives musicais, o teatro online se tornou uma alternativa cultural possível em tempos de isolamento social. A plataforma Sympla oferece uma série de peças em cartaz (várias delas tendo a pandemia como tema, inclusive).
Multiplicaram-se também os passeios virtuais interessantes, como os grafites de São Paulo, pontos turísticos do Brasil ou museus de todo o mundo. É possível até dar uma voltinha na lua.
Um relato frequente da quarentena é de pessoas que descobriram que são capazes de cozinhar. Quando a pandemia passar, muitas dessas pessoas, que nunca faziam comida em casa, terão adotado o novo hábito – não como uma obrigação, mas como um respiro criativo para o dia a dia.
“Antes eu nem passava perto da cozinha, especialmente nos finais de semana, quando a gente sempre ia comer fora”, conta a empresária Daniela Napolitano. “Isso certamente terá mudado depois da pandemia, pois descobri o prazer de fazer comida em casa.”
Já que reuniões ao vivo se tornaram altamente desaconselháveis durante a pandemia, o jeito foi recorrer à tecnologia para substituir os encontros presenciais. Confraternizações, happy hours, bingos ou simples bate-papo por videoconferência ganharam espaço na agenda de muita gente.
Houve quem tenha exagerado um pouco, é verdade. A transmissão de conversas entre duas pessoas em lives do Instagram se tornou uma febre – que, para a psicóloga Renata Sansoni, pode ser explicada pela amplificação da necessidade de se fazer presente. “As pessoas ficaram com medo de ser esquecidas e queriam se sentir parte de um todo”, diz a psicóloga.
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