Muita gente virou freelancer durante a pandemia. Grande parte foi por pura necessidade, diante da taxa recorde de desemprego – 14,4% no trimestre encerrado em agosto.
Há também os que optaram espontaneamente pela vida de frila, apostando nos benefícios que a modalidade pode proporcionar. A disseminação do trabalho remoto durante a pandemia tornou-se um incentivo adicional nesse sentido.
No balanço geral entre vantagens e desvantagens, parece que a maioria dos freelancers já convertidos vê mais motivos para satisfação do que para insatisfação. De acordo com pesquisa divulgada em outubro pela Workana, plataforma de contato entre empresas e profissionais autônomos, 54,5% dos frilas afirmam que não voltariam a trabalhar numa empresa.
Expansão à vista
Além das circunstâncias do desemprego e da pandemia, outro fenômeno relacionado à expansão do trabalho freelancer é a menor disponibilidade dos jovens para seguir carreiras corporativas convencionais.
O professor Marcos Nakatsugawa, dos cursos de graduação e pós-graduação da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), destaca, entre os motivos para isso, o choque de gerações (os jovens têm uma visão de sucesso diferente daquela cultuada pelos pais e avós) e a sensação de que será impossível conciliar o cotidiano nas empresas com os propósitos desejados para a vida.
“Muitos não encontram esse propósito e, por isso, acabam, ao trocar de trabalho, buscando algo que ainda não sabem o que é”, diz o professor. A variedade de experiências proporcionada pela atividade como freelancer ajuda os mais jovens a lidar com essas dificuldades.
Independentemente do ângulo sob o qual se analise o tema, o cenário aponta para o crescimento do trabalho freelancer. Por isso tratamos a seguir das dúvidas mais comuns de quem está entrando nesse universo – ou sentindo que a possibilidade está se tornando cada vez mais próxima.
O principal caminho para buscar trabalhos como frila é ativar a rede de contatos. Procurar as pessoas com quem você já trabalhou, que sabem da sua capacidade e podem passar jobs ou indicar você para conhecidos.
Quem ainda está no início da carreira e não tem uma rede de contatos muito sólida pode recorrer às plataformas de trabalho freelancer, como Workana, Freelancer.com, 99freelas e Fiverr – que, com forte atuação na Europa e nos Estados Unidos, acaba de chegar ao Brasil, com um site em português.
“Ao permitir que os brasileiros transacionem em reais ou boleto e no seu próprio idioma, eliminamos as principais barreiras de entrada para nossa plataforma e demos acesso a oportunidades oferecidas por empresas brasileiras e de diversos países”, diz a vice-presidente de Expansão Internacional da Fiverr, Peggy De Lange.
Muitos frilas já vêm com valor pré-estabelecido – ou seja, o contratante oferece um valor x em troca da realização de determinada tarefa, e o frila aceita ou não essas condições.
Na maior parte dos casos, contudo, o valor está aberto a negociação. Muitos frilas, especialmente os iniciantes, ficam inseguros para estabelecer o preço. Têm receio de errar para um dos dois lados: cobrar pouco e vir a se arrepender, ou definir um valor alto demais, a ponto de assustar o interessado.
Uma boa estratégia é projetar quanto tempo de trabalho será demandado pela missão e definir um preço proporcional à remuneração mensal desejada pelo frila. Por exemplo: se o profissional almeja uma remuneração mensal de R$ 8 mil e o trabalho em vista exigiria duas semanas de dedicação plena, uma boa referência de preço é R$ 4 mil.
Essa referência é um ponto de partida que pode ser puxado para cima ou para baixo dependendo de outras circunstâncias, incluindo se o momento do frila é de acúmulo ou de escassez de trabalho.
Profissionais que se acostumaram a ter uma remuneração fixa, com data certa para o salário ser depositado na conta, têm dificuldades de adaptação à realidade mais flexível dos frilas.
Os prazos para pagamento dos serviços realizados variam muito. Há circunstâncias em que a remuneração ocorre imediatamente e outras em que a empresa contratante pode demorar até três meses para efetuar o depósito.
Diante dessas incertezas, é preciso mudar a mentalidade sobre a gestão financeira: em vez de pensar mês a mês, como fazem os assalariados, o frila precisa ter uma visão anual. Assim, os meses com maior entrada de caixa compensam aqueles em que o faturamento cai.
O importante é que, ao final do ano, a média mensal resulte em uma remuneração adequada para o esforço feito e compatível com a necessidade pessoal de faturamento.
Esse ponto depende muito do gosto pessoal, das circunstâncias familiares e da capacidade de organização de cada um.
Muitos especialistas sugere que o frila que trabalha em casa defina horários pré-estabelecidos para o expediente e se vista como se fosse sair de casa, uma forma de “ajudar” o cérebro a entender que é preciso se concentrar no trabalho.
Para muitos frilas, no entanto, esses conselhos eliminam justamente o que há de melhor na atividade autônoma: a possibilidade de fazer o próprio horário no dia a dia e de se sentir confortável durante o trabalho em casa.
A pandemia reforçou esse ponto de vista, já que, com a fusão de tantas atribuições ao longo do dia – trabalhar, supervisionar a escola dos filhos, limpar a casa, organizar as compras –, tornou-se praticamente impossível estabelecer limites claros para o início e o fim do expediente.
Principal benefício do trabalho remoto, segundo os freelancers:
46,2% – Poder trabalhar em casa, ambiente em que se sente confortável
17,1% – Melhor gestão do tempo
15,4% – Maior nível de produtividade
15,2% – Manter convívio próximo com a família
6,1% – Maior capacidade de concentração
Principal habilidade necessária para o trabalho remoto, segundo os freelancers
22,3% – Adaptação a diferentes situações
18,8% – Criação de estratégias para divulgar o trabalho
16,7% – Precificação adequada
15,9% – Gestão do tempo e de projetos
12,9% – Habilidade de negociação
9,6% – Comunicação efetiva
3,8% – Gestão da própria autonomia
Fonte: Relatório Workana sobre Home Office, out/2020
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