São sempre os mais experientes que ensinam os novatos dentro das empresas, certo? Errado! Os programas de mentoria reversa surgiram justamente para quebrar a ordem hierárquica de transmissão de conhecimento. Nesse modelo, são os mais jovens que dão mentoria aos mais velhos. Entre as empresas que implantaram esse sistema estão multinacionais de setores distintos como Sanofi (farmacêutica), IBM (tecnologia) e Yara (fertilizantes).
Quem já participou desse tipo de programas diz que mentor e mentorado saem ganhando com a troca de experiência. Para as empresas, o benefício se dá com a ampliação da diversidade geracional, alcance de resultados mais inovadores, além de ajudar na preparação de futuros líderes.
O 6 Minutos conversou com uma dupla de participantes do programa da Sanofi para saber como foi a experiência. Veja abaixo:
O mentorado
Álvaro Cunha, 37, head de compras da América Latina da Sanofi, participou da segunda turma de mentoria reversa da Sanofi. Ele diz que a comunicação com colaboradores de outras gerações melhorou após o programa.
“A mentoria trouxe uma visão muito mais clara de como entender e influenciar a equipe para determinadas tarefas. Para os millenials, não funciona impor tarefas. Eles têm de entender o propósito daquilo”, disse.
Para o head de compras, o aprendizado também melhora seu capital profissional. “O meu intuito era continuar a ser relevante para os times em desenvolvimento.”
O mentor
Thiago Ferreira, 30 anos, analista de controladoria, diz que ganhou visibilidade dentro da empresa e uma visão de liderança que não tinha antes.
“Aprendi muita coisa. Deu para entender como funciona a cabeça de alguém que já chegou a cargos que pretendo um dia alcançar. Aprendi que pontos ele precisa levar para uma reunião. Ganhei uma visão da empresa que não teria se não tivesse saído do meu mundo, pois o Álvaro é de uma área diferente da minha”, afirmou Thiago.

Alvaro Cunha (mentorado) e Thiago Ferreira (mentor) na farmacêutica Sanofi Crédito: Divulgação
O que a empresa pensa do programa?
Pedro Pitella, 55 anos, diretor de Recursos Humanos da Sanofi, diz que o programa implantado no ano passado deu tão certo que a companhia resolveu abrir uma segunda turma em 2019. Outro indicador de sucesso é que outras filiais da Sanofi na América Latina também estão implantando iniciativas simulares à da operação brasileira.
“Temos várias gerações convivendo dentro da companhia, do babybomer até os millenials. O objetivo é promover a diversidade de gerações por meio da inclusão. Com a mentoria, o mais jovem consegue pensar como funciona a cabeça do líder, enquanto os sêniores recebem insights que podem ser incorporados em seu comportamento como líder”, diz.
Como quebrar o gelo e eventuais resistências entre as gerações?
Na Sanofi, o programa deixa claro que a mentoria reversa não se trata de uma atualização relacionada a questões tecnológicas ou de redes sociais.
“Tomamos o cuidado de não criar a ditadura do millenial, para não achar que era uma via de mão única. Não é só o lado do millenial que está certo. O foco não era aprender a usar rede social, e, sim, a mudar a forma de liderar e interagir dentro da companhia”, diz o diretor.
A palavra do especialista
João Marcio Souza, CEO da Talenses Executive, afirma que programas de mentoria reversa ainda estão restritos a grandes empresas. Ele diz não existir uma proliferação de iniciativas como essa muito em razão do ambiente econômico.
Mas diz ver com bons olhos essa troca de experiência entre gerações. “Ninguém sabe tanto que não possa aprender. E as empresas possuem quadros muito distintos, com maneiras muito peculiares de se comunicar e se relacionar.”